quarta-feira, 24 de abril de 2024

LIBERDADE DE DEUS

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Para mim, a liberdade é Cristo.
Só em Deus e no Seu amor eu sou realmente livre.

Ainda me deixo prender por muitas coisas do mundo, mas nos momentos em que me deixo tocar por Ele, em que deixo que Ele realmente conduza a minha vida, então é que me sinto realmente livre, porque me sinto cheio do amor d’Ele e, no amor d’Ele, me sinto amor para os outros.

E no amor de Deus que tudo ama e perdoa, também eu me sinto livre para amar a todos e perdoar, (pedindo perdão também), não deixando que qualquer rancor ou ressentimento me aprisione em sentimentos que me tornam escravo de mim próprio e da vida mundana.

Sim, vivo no mundo e sou tocado pelo mundo, mas tento, no amor e na liberdade de Deus, transformar o mundo, pelo menos o meu mundo, para que não seja ele a conduzir a minha vida, mas estando nele e vivendo nele, me deixe conduzir pelo Espírito Santo que me faz viver no mundo, na liberdade dos filhos de Deus.

Ah, como me faltam as palavras para poder explicar o amor e a liberdade que sinto em mim, quando me deixo conduzir pelo Espírito Santo!

Como quando começo uma oração em voz alta, em comunidade, e ao princípio o receio de dizer coisas erradas, de fazer má-figura, enfim, o medo das coisas do mundo, parece que me prende, mas depois, abandonando-me ao Espírito Santo, deixo que as palavras saiam mais do meu coração do que da minha boca, e então, já não me interessa o que o mundo pensa, já não me interessam, nem me metem medo as palavras, porque sejam elas quais forem, se são ditas no Espírito Santo, alcançam sempre os seus propósitos, e por isso mesmo deixo de pensar em mim, para entrar na liberdade de Deus em mim.

E a liberdade de Deus leva-me a encarar a morte, não como uma prisão ou uma qualquer meta, mas antes e tão só como a passagem desta vida do mundo que ainda me prende, para a vida em Deus que tudo ama e liberta, até do tempo que agora nos confina.

Realmente para mim, a liberdade é Cristo.
Só em Deus e no Seu amor eu sou realmente livre.





Marinha Grande, 24 de Abril de 2024
Joaquim Mexia Alves

domingo, 21 de abril de 2024

COISAS DA MINHA VIDA

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Ontem estive num almoço de convívio dos militares da Companhia Militar, CART 3492, em que servi nas Forças Armadas Portuguesas, numa comissão militar na Guiné, entre Dezembro de 1971 e Dezembro de 1973.

Foi, como sempre, um momento de reencontro, de emoções, de sentimentos, de contar e recontar histórias ininterruptamente repetidas, acrescentando-lhes, por vezes, pormenores que uns e outros vão lembrando, culminadas com fortes gargalhadas ou com sorrisos melancólicos, tendo sempre presente a amizade que nos une, forjada nas situações que vivemos.

Como sempre hoje em dia, gosto de retirar para mim, tudo que acontecendo na minha vida, me dá sinais de Deus ou me leva a percebê-lO em tudo aquilo que vivo.

Já escrevi sobre isto, mas a realidade é que esta amizade que une os Combatentes, tem uma força inabalável, porque nasceu da confiança e da entrega de cada um nas mãos do outro, e vice-versa, pois só assim se pode viver na guerra.

Obviamente que Deus nada tem a ver com a guerra, que é coisa da liberdade dos homens, e obviamente, também, que a guerra não serve para nada, a não ser ceifar vidas de um lado e do outro, porque os homens não foram capazes de se entender.

Mas esta amizade, ou melhor, esta aliança indestrutível dos Combatentes, leva-me a reflectir sobre o ser cristão, o ser Igreja, atendidas, claro está, as imensas diferenças.

Se nós quisermos ser verdadeiros cristãos, verdadeiramente Igreja, deveríamos ter também esta união, sobretudo esta confiança e entrega, primeiro a Deus e depois aos outros, percebendo que só juntos, com Ele à cabeça e guiando-nos segundo a Sua vontade, podemos alcançar a salvação.

Depois percebo que na guerra cada homem se quer, obviamente, salvar, mas também quer que todos os outros que com ele estão se salvem também.

Como cristãos, em Igreja, deveríamos viver e pensar que a nossa salvação só tem sentido quando queremos também a salvação dos outros, e que essa é uma meta que deveremos querer sempre alcançar, em Igreja.

Depois ainda, percebo que esta amizade que une os Combatentes, embora viva sempre em nós, é alimentada nestes encontros, nestas histórias continuamente repetidas, nestes abraços que se dão em abundância.

Também nós cristãos, em Igreja, deveríamos perceber que os nossos encontros com Deus nos Sacramentos e não só, as nossas orações tantas vezes repetidas, os nossos abraços de comunhão, são o alimento da vivência da nossa fé.

Percebo ainda que neste círculo de Combatentes é muito difícil entrar para quem não viveu a experiência da guerra, por muitas razões, e até porque temos muitas vezes uma linguagem própria que não é facilmente inteligível aos outros.

Já em Igreja, como cristãos, as portas têm de estar abertas a todos, e todos devem poder entender a linguagem de Deus, as orações, e a comunhão de amor.

Lembrei-me ainda do louvor, que no fim da minha comissão me foi dado, (na fotografia que ilustra este texto), e sobressaíram algumas palavras, como “cumprimento de missão”, “exemplo”, “alto critério de justiça”, “pronto a colaborar”, etc., etc.

E então, tive que me colocar perante mim próprio, e perguntar-me se também aquelas virtudes que naquele louvor me apontam, mas poderiam apontar, também, em Igreja?

Não para me louvar ou para me destacar dos outros, mas sim porque essas virtudes deveriam ser uma constante no meu ser cristão, no meu querer ser discípulo de Cristo, no meu querer ser Igreja.

Que Deus abençoe todos os Combatentes, sobretudo aqueles que ainda sofrem no físico e no psíquico as vicissitudes da guerra, e abençoe também as suas famílias que com eles, tantas vezes, ainda sofrem também as angústias de um passado.

Que Deus na Sua infinita misericórdia perdoe aos homens que fazem as guerras, (e não me refiro àqueles que por força de servirem as Forças Armadas o têm de fazer), mas àqueles que tendo nas suas mãos a possibilidade de escolher a paz, fazem a guerra, a maior parte das vezes por razões inomináveis.

Que Deus no Seu infinito amor receba as vítimas de todas as guerras passadas e presentes e leve a humanidade a encontrar a paz.






Marinha Grande, 21 de Abril de 2024
Joaquim Mexia Alves

quinta-feira, 18 de abril de 2024

BAPTISMO 75 ANOS

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Passam hoje 75 anos que fui baptizado, que me tornei filho de Deus, templo do Espírito Santo, que me tornei Igreja, família de Deus.

A vida nova que o Baptismo nos dá, me deu, fica para sempre em nós e, mesmo que nos afastemos dela, que nos afastemos de Deus, (como foi o meu caso), o Espírito Santo continua a habitar em nós, esperando apenas que O deixemos fazer a Sua obra em nós.

Hoje, profunda e totalmente comprometido com a vida nova que o Baptismo me deu, vivo para Cristo, no amor do Pai, deixando-me guiar pelo Espírito Santo, embora tantas vezes falhe nesse meu comprometimento.

Mas o Pai de amor corre sempre para mim, para me abraçar, cada vez que reconheço as minhas falhas a as coloco nas Suas mãos pedindo perdão.

E este perdão de Deus, não é um perdão como tantas vezes nós damos, ou seja, um perdão condescendente, quase arrogante.

Não, o perdão de Deus é um perdão de amor que nos abraça, nos envolve no Seu amor, que nada guarda das falhas cometidas, mas antes pelo contrário restabelece total e verdadeiramente a relação que nós próprios cortámos com o nosso pecado.

Por isso hoje Te dou graças, Senhor, porque me deste pais que me levaram ao Baptismo e me educaram na fé católica, e me deste tanta gente que me ajudou a regressar a Ti, reavivando a Vida Nova que há 75 anos derramaste em mim pela água do Baptismo.


«Pelo Baptismo somos Igreja viva e peregrina»
Carta Pastoral de D. José Ornelas, Bispo de Leiria-Fátima





Marinha Grande, 18 de Abril de 2024
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 15 de abril de 2024

ESCREVER?!

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E por vezes é assim.

Sinto uma vontade, quase uma necessidade de escrever, e nada me vem à mente, nada me vem ao coração.

Inicio frases que não têm fim, pensamentos que não se completam, sentimentos que não se fazem sentir, e a escrita continua “muda sem se ouvir”.

Pois, se calhar é porque julgo que tudo sei, de que tudo sou capaz, que consigo escrever sobre Ti, ou melhor, sobre Ti em mim, sem me entregar primeiro a Ti.

Ouço então a Tua voz dizer-me: «Lança a rede para a direita» Jo 21, 6

Oh, Senhor, então estou aqui há tanto tempo e nada consigo escrever e Tu queres que eu continue a tentar de modo diferente?

E o que significa então “lançar a rede para a direita”, Senhor?

Ah, percebo!

Queres que eu me deixe levar por Ti e não que me ache capaz de escrever sozinho.

Sorris, olhas para mim, e dizes-me com esse Teu infinito carinho: Não é só a escreveres que te deves deixar levar por Mim, mas em cada momento da tua vida, porque Eu sei de tudo o que precisas e de tudo o que é melhor para Ti.

Agora sou eu que sorrio e Te digo com todo o amor que em mim consigo encontrar: Obrigado, Senhor! Fica então para a próxima vez, porque hoje, pelo visto, não escrevi nada de jeito.

Tu apenas sorris e meneias a cabeça, como quem me diz que continuo muitas vezes sem nada entender!






Marinha Grande, 15 de Abril de 2024
Joaquim Mexia Alves

quinta-feira, 11 de abril de 2024

A ORAÇÃO PESSOAL

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Numa reunião do grupo que faz a oração nos nossos Percursos Alpha, falámos, obviamente, sobre a oração.

Abrimos os nossos corações e falámos cada um por si e de si, do modo como fazemos as nossas orações pessoais, e como nos preparamos para fazer a oração comunitária que costumamos fazer, sobretudo no fim de semana do Alpha.

E foi curioso perceber que quanto às nossas orações pessoais diárias, todos nos debatemos com o “eterno” problema da falta de tempo, das orações repetitivas e rotineiras, da “rapidez” das orações e, também, dos apoios que nos vamos servindo para as nossas orações diárias.

Colocamos muitas vezes um “peso” nas nossas orações diárias, como se de uma obrigação se tratasse, ou melhor, como se fosse uma imposição de Deus sobre nós, quando afinal se trata “apenas” de alimentar todos os dias a nossa relação com Deus.

Fazemo-lo com os nossos familiares directos, filhos, maridos, esposas, com os nossos colegas de trabalho, com amigos e com quem nos cruzamos no nosso dia a dia, porque são esses “bom dia”, esses “boa noite”, essas conversas, muitas vezes acerca de tudo e de nada, que fortalecem a nossa relação com as pessoas e nos dão a conhecer melhor cada um daqueles com quem falamos.

Então, obviamente, porque não fazê-lo com Deus?

E sim, para fortalecer a nossa relação com Ele, o nosso melhor conhecimento d’Ele, para sentirmos o Seu amor por nós e “aferirmos” o nosso amor por Ele.

Balizamos nós o tempo que devemos falar com os outros, como acima está referido?
Quanto tempo devemos falar com a nossa esposa ou marido, com os nossos filhos, com os amigos, etc.?
É isso uma preocupação nossa?
Não entendem eles as nossas ocupações diárias que nos impedem de dar mais tempo a essas conversas?

Então e Deus?
Não entenderá Ele muito melhor todas essas nossas condicionantes?

A nós cristãos na sua maioria, Deus não nos chamou a ser monges ou freiras de clausura dedicados à adoração e oração, mas sim a viver uma vida de trabalho na sociedade, a viver como uma família, etc., etc. e, por isso mesmo, sabe bem melhor do que nós, de toda a ocupação de tempo que essa vida comporta e que torna impossível, digamos assim, um tempo de oração estruturado e longo em cada dia.

Santa Teresa do Menino Jesus definia a oração como «um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao Céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou da alegria.»

Então quando em tantos momentos do dia nos “lembramos” de Deus, “vemos” a mão de Deus no que nos vai acontecendo, por vezes até meio inconscientemente, Lhe agradecemos, Lhe pedimos e até por vezes Lhe “chamamos a atenção”, estamos a fazer oração, ou seja, estamos em relação com Deus.

Obviamente que isto não invalida que possamos encontrar em cada dia um espaço/momento para fazermos uma oração mais “estruturada”, para O louvar e para Lhe pedir, e assim nos devemos comprometer com esse espaço/momento, que mesmo tornando-se talvez um pouco rotineiro, não deixa de ser a intenção do nosso coração em estarmos com Deus e a Ele nos confiarmos.

Mas não nos preocupemos com o muito ou pouco tempo desse espaço/momento, mas sim com a intenção do nosso coração em estar com Deus, e ter uma duração que saibamos ser possível para nós em cada dia, de preferência sempre à mesma hora.

E depois, ao longo dos dias, tentemos encontrar momentos para estarmos com Ele na Igreja, frente ao sacrário e, muito especialmente, na celebração da Eucaristia Dominical.

Deus não é “ciumento” e ama-nos de tal forma que “aproveita” todos os momentos que Lhe damos, mesmo repetitivos, mesmo rotineiros, mesmo até talvez pouco conscientes.

Uma oração, julgo eu, é imprescindível para toda a outra oração: Pedir continuamente o Espírito Santo, porque é Ele que ora em nós.

«É assim que também o Espírito vem em auxílio da nossa fraqueza, pois não sabemos o que havemos de pedir, para rezarmos como deve ser; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis.» Rm 8, 26






Marinha Grande, 11 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 8 de abril de 2024

ANUNCIAÇÃO DO SENHOR

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Quedo-me espantado, maravilhado, atingido pelo amor, pela humildade de Deus, do Deus em que acredito, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

De facto, tantas vezes que nós nos consideramos importantes, superiores, e, por isso mesmo, tantas vezes colocamos de lado outros que julgamos inferiores pelas mais diversas razões, pela cor da pele, pela vida social, pela riqueza ou pobreza, pelo poder, seja ele qual for, enfim, por razões que não são razão nenhuma.

E Deus, o Todo Poderoso, quis-Se fazer igual a nós em tudo, excepto no pecado.

Quis nascer de uma mulher igual a nós e quis nascer como qualquer um de nós, até mais pobremente que a maioria de todos nós.

Claro que Maria, Mãe de Jesus, só podia ser também Ela, um exemplo perfeito de humildade, de escuta, de entrega à vontade de Deus.

Maria é toda Ela um Sim, feito vida de entrega a Deus.

Ah, se eu, se todos nós quiséssemos ser um pouco “Marias”, ou seja, se humildemente recebêssemos Jesus e O mostrássemos a todos com humildade e entrega total.

Se também nós, sem barreiras, nem medos, disséssemos sim a Deus e procurássemos apenas a Sua vontade.

Se cada um de nós fosse Cristo para o outro, independentemente da sua condição, fosse ela qual fosse.

Como podemos nós dizer que amamos e não sermos humildes?

O amor, o verdadeiro amor, nunca pode ser orgulhoso, porque se o for não é amor, mas domínio e arrogância.

Mesmo perante aqueles que erram, devemos sempre perguntar-nos se não erramos nós também tantas vezes.

E, permitam-me uma confissão: É tão “fácil” para mim pensar e escrever isto que escrevi, mas é tão difícil, para mim, colocar em prática o que penso e escrevo.

Hoje na Solenidade da Anunciação do Senhor, peço ao Espírito Santo que não só me ensine e ajude a dizer sim à Sua vontade, mas também a colocar em prática esse sim no meu dia a dia com todos sem excepção.





Marinha Grande, 8 de Abril de 2024
Joaquim Mexia Alves

sábado, 6 de abril de 2024

75 ANOS

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Olho para trás porque quero ver a Tua presença em tudo na vida que me deste.

Mesmo quando me afastei de Ti, sempre me deste a mão e me protegeste dos perigos, a maior parte das vezes provocados por mim próprio.

Quando me perdia por vidas erradas, continuavas a olhar por mim e para mim, sem nunca desistires de mim.

E tantas vezes eu fui a centésima ovelha que se perdia e Tu tudo fazias para me encontrar, ou melhor, para eu Te encontrar.

Pacientemente, como só Tu sabes ser, esperaste que me voltasse para Ti, pronto a correr para mim de braços abertos, para me abraçar e receber de novo.

Envolveste-me no Teu amor, todo ele perdão e misericórdia, de tal modo que nunca me fizeste sentir um condenado ou proscrito, mas sim um filho que regressa à casa do Pai.

«Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir!» Jr 20, 7

Despertaste em mim a ânsia serena, (por vezes não tão serena, quase num frenesim), de Te querer conhecer cada vez mais e melhor, sobretudo, de Te viver, de ser comunhão contigo.

Quando julgo que tenho certezas, logo me as abalas, para que Te procure sempre, percebendo que a única certeza que tenho é o Teu infinito amor, e que d’Ele tudo me vem.

Quando tenho dúvidas, apresentas-Te diante de mim, (não sei como o fazes), e dizes-me: «Olha as minhas mãos: chega cá o teu dedo! Estende a tua mão e põe-na no meu peito. E não sejas incrédulo, mas fiel.» Jo 20, 27

E depois enches-me do Espírito Santo, que desperta a oração em mim e por vezes me leva a voar tão alto, que quase me perco nas alturas, mas logo me dás a mão e me fazes regressar à vida que queres que eu viva em Ti, para os outros.

Já lá vão 75 anos e Tu olhas-me e sorris, porque me olhas como uma criança que precisa sempre de colo.

75 anos é tão pouco quando penso na eternidade que Tu és e queres que eu viva também!

Olho-Te, sorrio-Te, dou-Te a mão e juntos continuamos estrada fora até onde Tu quiseres e eu vou repetindo baixinho: Obrigado Jesus! Tu és a minha vida!





Marinha Grande, 6 de Abril de 2024
Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 3 de abril de 2024

AS MULHERES

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Por estes dias os Evangelhos narram-nos como Jesus ressuscitado se mostrou primeiro às mulheres, que depois levaram a extraordinária e alegre notícia aos homens.

Veio então ao meu coração o simples facto de que são as mulheres que “dão à luz”, que trazem a vida dentro de si e a fazem nascer para o mundo.

E o paralelismo é então, parece-me que perfeito.

Às mulheres foi-lhes dado ver a Luz primeiro, e dar aos homens a notícia sobre a Luz do mundo que é Jesus Cristo ressuscitado.

Às mulheres foi-lhes dado ver a Vida primeiro, e dar aos homens a notícia sobre a Vida Nova que é Jesus Cristo ressuscitado.

É nas mulheres, (com os homens, claro), que começa a vida de cada ser humano amado por Deus, e é nas mulheres que, protegido do mundo, se desenvolve nos seus primeiros tempos até nascer para o mundo.

Então no mundo, pelas águas do Baptismo, o ser humano nasce de novo como filho de Deus.

Nasce no mundo, vive no mundo, mas a sua pertença é de Deus, a sua vida é para Deus e é em Deus que a vida que lhe foi dada por Deus se completa.

E tudo isto, porque as mulheres “dão à luz”!





Marinha Grande, 3 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

domingo, 31 de março de 2024

DOMINGO DE PÁSCOA 2024

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Também eu corro, (no meu coração), atrás de Pedro e João em direção ao túmulo.

Fico ainda mais atrás de Pedro, pois não ouso sequer aproximar-se deles, para ver o que se passa.

Vejo Pedro que entra no túmulo seguido depois por João e consigo perceber nos seus rostos a perplexidade perante aquilo que viam.

No entanto as faces de Pedro e João mostram agora um sorriso como quem acreditou em algo grandioso, mas ainda não percebeu tudo o que tal queria significar.

No meu coração nasce forte então essa certeza: Jesus Cristo ressuscitou!

Sigo-os muito atrás para que não me vejam, e entro com eles num lugar onde todas as portas estão fechadas com medo das autoridades judaicas.

Ao anoitecer vejo Jesus que aparece no meio deles e lhes diz: «A paz esteja convosco!»

Mostra-lhes as mãos e o peito e os discípulos ficam cheios de alegria por verem o Senhor.

Também eu, (muito quieto como sempre no meu canto), vejo Jesus Ressuscitado e quase me parece impossível conter a alegria dentro de mim e gritar para todos ouvirem: Jesus Cristo ressuscitou! Aleluia!

Saio dali, sem ninguém se aperceber, a não ser Jesus Cristo Ressuscitado, que me sorri cheio de amor como que dizendo-me: Eu sabia que estavas aí!

Julgo então que é um tudo um sonho, mas não, afinal estou bem acordado, o acontecimento é real, e foi a minha imaginação que me levou àquele lugar.

Acredito então com todo o meu ser, dou graças pelo dom da Fé, e tomo a firme decisão de anunciar a toda gente que Cristo ressuscitou, não morre mais, e só n’Ele, com Ele e por Ele encontramos a vida verdadeira que nos leva à eternidade junto de Deus.

Glória a Ti, Jesus Cristo, Luz fulgurante sobre as trevas!
Glória a Ti, Deus da Esperança, ó Luz do homem novo!






Tendo no coração o Evangelho de São João
Marinha Grande, 31 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 29 de março de 2024

SEXTA FEIRA SANTA 2024

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Suas sangue, de joelhos prostrado em oração.

Porque suas sangue, Senhor?

Por causa dos tormentos que sabes Te vão ser infligidos?

Acredito que não, Senhor, que suas sangue por saberes e perceberes os nossos corações duros que, mesmo perante o Teu sacrifício, teimam em não se converter.

Basta um coração que não se converta para que a Tua «alma esteja numa tristeza de morte» Mt 26, 38

Pelo Teu coração passam as vidas de todos nós e Tu anseias que todos, mas mesmo todos, possam ouvir a Tua voz, reconhecer o Teu amor, e assim se deixem converter e encontrar o caminho da salvação.

Sabes que vais sofrer e talvez o Teu ser Homem, (quem sou eu para o perceber), anseie por se livrar de tamanhos tormentos que Te esperam, mas o Teu amor por nós é muito maior do que essa ânsia, e assim, sabendo que tudo Te é pedido, com a face por terra, oras ao Pai, cheio de amor: «Meu Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice. No entanto, não seja como Eu quero, mas como Tu queres.» Mt 26, 39

Depois tudo se precipita!

Os algozes que Te vêm prender aproximam-se e nós fugimos deixando-Te só perante eles.

Talvez Te sigamos de longe, disfarçados, tentando perceber o que se vai passar, mas não somos capazes de partilhar contigo os terríveis vexames e dores que Te vão ser infligidos.

Mesmo ao longe e disfarçados para não nos reconhecerem, perante a pergunta que nos fazem se Te pertencemos, cobardemente dizemos que não, muito mais do que três vezes, e muitos mais do que três vezes, perante o Teu olhar de amor, nos arrependemos e choramos as nossas negações.

Depois, nenhum de nós que Te segue, se aproxima para Te ajudar a levar a cruz, e têm de chamar outro, que ainda não Te conhecia, para Te ajudar a levar a cruz dos nossos pecados.

E, no entanto, no nosso dia a dia, és Tu que sempre nos ajudas a levar a nossa cruz.

Talvez tapemos os nossos olhos com as mãos quando perfuram a Tua carne com os cravos que Te pregam à cruz, mas nada fazemos, para impedir que tal aconteça.

Ao longe, para que ninguém nos veja, desejávamos estar junto de Tua Mãe e de João, aos pés da Tua cruz.

Então talvez acolhamos Tua Mãe como nossa Mãe, sabendo que, sem dúvida, Ela já nos aceitou e ama como filhos seus.

Ouvimos a Tua voz repassada de amor, «Tudo está consumado» (Jo 19, 30), e num último suspiro entregas-Te nas mãos do Pai.

Choramos então amargamente e batemos com a mão no peito, porque finalmente reconhecemos que «verdadeiramente este homem era Filho de Deus» (Mc 15, 39).







Marinha Grande, 29 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 27 de março de 2024

QUINTA FEIRA SANTA 2024

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Vejo-me num canto da sala de cima, onde celebras a Páscoa com os Teus Apóstolos, a Tua Última Ceia.

Estou ali em silêncio, agachado, de joelhos, como se fosse para não me veres, como se fosse possível Tu não saberes que eu ali estou.

A refeição prossegue e as conversas cruzam-se na mesa, mas em todas elas há uma pergunta no ar: E agora, o que vai Ele fazer?

Tinhas-lhes dito que ias morrer, que ias partir e eles começavam a sentir-se amedrontados.

Olhas a cada um com esse Teu olhar de amor, de compaixão, querendo incutir-lhes a confiança, a esperança, a força, para acreditarem e viverem tudo aquilo que vai acontecer e que Tu sabes bem o que é, e como isso os vai afectar.

Sabes que vais dar a vida por todos, sabes que todos eles vão fugir e até negar, mas o Teu amor por eles, por todos nós, (que tantas vezes fugimos de Ti e Te negamos), contínua a derramar-se em nós sem medida.

Já sabes como lhes hás-de dizer, mostrar, como vais ficar com eles, connosco, até ao fim dos tempos.

Sabes também que eles não vão perceber para já o alcance do que vais fazer, como tantos de nós continuamos tantas vezes sem perceber.

Depois de olhares cada um intensamente, mais uma vez, tomas o pão nas Tuas mãos, abençoa-lo, parte-lo e dás a cada um dizendo: «Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim». 1 Cor 11, 24

Não Te importas com o espanto que lhes causas, com a surpresa nos seus rostos, e, amorosamente, tomas o cálice nas Tuas mãos, novamente dás graças, abençoas e dás a cada um deles, dizendo: «Este cálice é a nova Aliança no meu sangue; fazei isto sempre que o beberdes em memória de mim». 1 Cor 11, 25

Eles, como nós, não conseguem abarcar a imensidão do mistério divino que ali realizas e continuas a realizar todos os dias na Eucaristia.

Sabes bem que um dia, guiados pelo Espírito Santo, Te havemos de reconhecer ao «partir do pão». Lc 24, 35

Agora o Teu olhar projecta-se para além deles, e atinge cada um de nós que, na Missa de Quinta Feira Santa, e em todas as Missas, abre o seu coração à Tua presença viva na Eucaristia.

E nós, tal como eles, então, sentimo-nos tocados pelo Teu infinito amor.

Levanto a minha cabeça e percebo que a sala de cima onde julgo estar, é afinal a assembleia daqueles que em Ti acreditam e Te querem seguir em Igreja.

E, ao olhar com os olhos do coração, com o olhar da fé, vejo-Te na Hóstia e no Cálice consagrados e exclamo dentro de mim: «Meu Senhor e meu Deus». Jo 20, 28






Marinha Grande, 27 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 25 de março de 2024

CAMINHO DE QUARESMA XVI

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Começa a semana maior, a Semana Santa.

A minha alma e o meu coração alternam entre a alegria contida e a tristeza comedida.

Mas quer a alegria, quer a tristeza, estão cheias de confiança, de esperança, de fé, enfim.

Jesus Cristo, meu Senhor e meu Deus, entrega-se por mim, e sim, é verdade, por todos, até por aqueles que ainda não acreditam ou O rejeitam.

E ao meu coração vêm as palavras infames que Lhe são dirigidas: «Tu, que destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz!» Mt 27, 40

E eu olho para dentro de mim e penso quantas vezes neste caminho de fé, que é hoje a minha vida, eu penso na minha salvação sem pensar na dos outros.

Jesus Cristo não precisava de salvação porque Ele próprio é a salvação

Mas quis fazer a vontade do Pai e dar a Sua vida pela minha salvação, pela salvação de todos.

Estarei eu disposto a dar a minha vida pela salvação dos outros?

Estarei eu disposto a entregar a minha vida ao Pai, se for de Sua vontade que eu a dê pelos outros?

Mesmo acreditando que Ele não me pediria tal sacrifício, seria eu capaz de o fazer por amor a Deus, por amor aos outros?

Ainda mais sabendo, acreditando, que se o fizesse também me salvaria por vontade d’Ele!

Nas Tuas mãos Pai coloco a vida que me deste, e entrego-a para que nela seja feita apenas e só a tua vontade, e se ela for necessária para a salvação de outros, toma-a nas Tuas mãos, porque ela é Te pertence.

Mas sou fraco, Pai, por isso Te peço, por Jesus Cristo, no Espírito Santo, dá-me tudo o que eu necessitar para que consiga conformar-me com a Tua vontade, e assim a vida que me deste ser útil à salvação de outros.

Será orgulho, meu Pai, este meu oferecimento?

Se é Pai, não o leves em conta, mas apenas o meu firme e sincero desejo de que todos, mesmo todos, se deixam tocar pelo Teu amor e que, em cada um como em mim, se faça a festa do regresso de cada filho à casa do Pai.

Para glória, hoje e sempre, do Pai, do Filho e do Espírito Santo.





Marinha Grande, 25 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 22 de março de 2024

CAMINHO DE QUARESMA XV

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O caminho quaresmal é também um caminho de esperança.

Abrimo-nos ao Espírito Santo para que Ele faça o caminho connosco, ou melhor, para que Ele nos guie no caminho.

E com Ele esperamos perceber melhor as nossas fraquezas, as nossas faltas, para nos podermos emendar, confiando e esperando sempre o perdão de Deus.

A esperança não é passiva mas activa.

Não é ficar sentado à espera do prometido, mas fazer caminho de esperança para viver na esperança do que já nos foi alcançado em Jesus Cristo.

A esperança não afasta de nós as tribulações e contrariedades, mas faz-nos enfrentá-las e vencê-las, aumentado a própria esperança de alcançarmos a vida em Cristo.

A esperança não é isenta de fundamento.

É alicerçada na fé, que nos leva à confiança em Cristo que assim nos enche de esperança.

A esperança não é para depois, é já e agora, e torna-se presente à medida que o bem que esperamos, vai acontecendo em nós e nos outros.

A esperança é vida.

Quem pode viver sem esperança?

A esperança constrói, une, exorta, alegra, dá vida para além da vida.

A esperança cristã é uma esperança presente, que se realiza agora já e se completa depois na vida eterna.

A esperança é a seiva da vida cristã!


Senhor
sabes como tantas vezes não me entrego, não confio, não me deixo conduzir por Ti.
Por isso mesmo, tantas vezes, a minha esperança é fraca, é apenas um momento e não a Tua vida em mim.
Aumenta em mim, Senhor, a fé, que leva à confiança que nos enche de esperança.
Amen.







Marinha Grande, 22 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 20 de março de 2024

CAMINHO DE QUARESMA XIV

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De que temos medo?

De que tenho eu medo, Senhor?

Olho-Te no Sacramento da Eucaristia e deixo-me tocar pelo Teu olhar.

Há uma paz, uma serenidade, uma bonança, que sinto vir de Ti e cada vez mais me deixo envolver no Teu amor.

Mas ainda tenho medo, Senhor!

Medo de quê?

Só Tu és o amor, a paz, a alegria, de que hei-de então ter medo, Senhor?

Não é um medo físico, mas qualquer coisa inexplicável que não me deixa abandonar-me inteiramente a Ti.

Mas o Teu amor, Senhor, reconheço que é o amor perfeito, o amor que tudo vence, o amor que se deu por mim, que se deu por todos nós.

Então porque tenho medo, Senhor?

Porque tenho ainda esta reserva dentro de mim, como seu fosse eu que soubesse o caminho, ou se como soubesse como caminhar, como encontrar o amor, a liberdade, o tudo que, afinal, só Tu podes dar.

Abate, Senhor, as minhas muralhas, as muralhas que construí com o meu medo, com a minha fraca vontade, com as minhas dúvidas ou certeza erradas.

Deita abaixo, Senhor, todos esses muros, tudo aquilo em que sou apenas eu, um eu que não se deixa tomar inteiramente por Ti.

Quero ser Teu, Senhor, inteira e totalmente Teu, e por isso Te lanço este grito de alma!

Vence-me, Senhor, derrota-me, Senhor, quero ser vencido pelo Teu amor, faz com que eu Te pertença por inteiro, porque essa é a minha vontade, assumida na liberdade que Tu me dás, porque eu sozinho não sou capaz de me vencer.

Recebe, Senhor, este meu pobre amor, nele vai a minha vontade de Te amar cada vez mais, por toda a vida que me quiseres ainda dar.





Marinha Grande, 18 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 18 de março de 2024

CAMINHO DE QUARESMA XIII

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Olho para a minha cruz e sinto-a tão pesada.

Quero, então, arranjar desculpas para todo esse peso.

Penso que são coisas da vida, são coisas do mundo, foram os outros que lhe deram peso, ou até o demónio que a faz pesar, e tudo serve para me desculpar do peso da minha cruz.

Mas tenho que reconhecer que a verdade é que muito desse peso da minha cruz, foram as minhas más escolhas, as minhas más atitudes, os meus erros, os meus vícios, as minhas fraquezas, o meu feitio que não quis corrigir, e tantas coisas erradas que fui fazendo ao longo da minha vida.

Olho para a minha cruz e, resignado, coloco-a sobre os meus ombros para a levar.

Outros à minha volta pedem-me ajuda para levarem as suas cruzes, mas eu não lhes dou atenção, porque acho que a minha cruz me basta.

Ouço então a voz d’Aquele que carregou as nossas cruzes feitas Sua Cruz, que me diz:
Não carregues a tua cruz com resignação, mas sim com aceitação, percebendo que à medida que a carregas, a podes ir aliviando do seu peso com a tua conversão, com o teu propósito de emenda, com a tua reconciliação Comigo e com os outros, e lembra-te sempre que Eu carreguei a tua cruz e a de todos na Minha Cruz, por isso ajuda o teu irmão, como Eu te ajudo a ti a levares a tua cruz.

Percebo então o que dizes e já com mais alento, sabendo que Tu a carregas comigo, faço-me à estrada da vida para ir ao Teu encontro.

Pelo caminho vou tentando ajudar outros a levarem as suas cruzes, como também a mim eles me ajudam.

Não sei se é alegria, se é paz, se é amor, mas desde que aceitei a minha cruz e a coloquei aos ombros, parece que já não me pesa tanto.

És Tu Senhor sem dúvida, que me ajudas a levá-la aliviando o seu peso.


Senhor
perdoa-me por tantas vezes recusar a minha cruz, fruto das minhas fraquezas e falta de perseverança.
Faz-me forte, Senhor, não só para carregar a minha cruz, mas também para ajudar os outros com as suas cruzes.
E obrigado, Senhor, porque na maior parte do tempo és Tu que carregas a minha cruz sozinho, quando eu me afasto de Ti.
Tem compaixão, Senhor, que eu sou pecador.
Amen.







Marinha Grande, 18 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 15 de março de 2024

CAMINHO DE QUARESMA XII

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Neste caminho quaresmal que queremos percorrer, também nos pedes, Senhor, que passemos à outra margem (Mc 4, 35).

Pedes-nos que abandonemos a falsa segurança da margem em que vivemos, do nosso conforto, da nossa rotina, dos nossos saberes e sentires, das nossas “coisinhas”, e que, confiando inteiramente em Ti, passemos à outra margem, aquela margem onde Tu nos esperas.

Mas nós temos muitas vezes medo de abandonar o que damos por adquirido, mesmo que não seja o ideal.

Temos medo de arrostar com o mar que nos separa da outra margem, porque não sabemos navegar e a barca da nossa vida é muito insegura e fraca, e mais vale estar nesta margem parado sem nada fazer, do que fazer caminho para Te encontrar verdadeiramente nas nossas vidas.

Mas Tu, Senhor, dizes-nos cheio de amor e compaixão que, apesar de nos esperares na outra margem, também atravessas connosco os mares das nossas vidas.

E repetes-nos aos ouvidos, “homens de pouca fé”, e depois acalmas as tempestades dos nossos mares, mandas calar o vento que sopra ameaçador, vens ter connosco sobre as águas e, quando por fraqueza nos afundamos, dás-nos a Tua mão e salvas-nos dos abismos.

E tantas vezes que nós, mesmo assim, deixamos a nossa barca da nossa vida em terra, julgando-nos seguros, e não a queremos colocar na água, para passarmos à outra margem.

Empurra, Senhor, nós Te pedimos, a barca da nossa vida para o mar, faz-nos desfraldar as velas deixando que o vento do Espírito Santo sopre sobre elas e nos leve mar fora ao Teu encontro.



Senhor
mostra-me o mar que devo atravessar para chegar à outra margem.
Vem comigo a navegar e faz soprar o vento do Espírito Santo na barca da minha vida.
Aumenta a minha fé, a minha confiança, a minha esperança.
E abraça-me, Senhor, na outra margem a que me queres levar.
Amen.







Marinha Grande, 15 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 13 de março de 2024

CAMINHO DE QUARESMA XI

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E o perdão, Senhor?
É tão difícil, por vezes perdoar.

Eu sei, meu filho, mas lembra-te do que dizes quando rezas o Pai Nosso que Eu te ensinei.

É verdade, Senhor, por vezes é tão “mecânica” a forma como o rezo, que nem me detenho a pensar se realmente já perdoei as ofensas que me fizeram.
Mas, Senhor, há certas ofensas muito difíceis de perdoar.

Sim meu filho, com certeza que há. Mas são precisamente essas mais difíceis de perdoar que mais necessitam da tua atenção e da tua vontade de perdoar, porque são essas que te retiram a paz e a tranquilidade e, por vezes, até te provocam mau estar, mesmo físico.

Eu tento, Senhor, mas por vezes até me parece que não estou a ser verdadeiramente sincero nesse meu desejo de perdoar.

O que interessa, meu filho, é a recta intenção do teu coração, a tua vontade firme de querer perdoar, e depois, abre-te ao Meu amor em oração por quem te ofendeu ou tu ofendeste, e deixa que no Meu amor, deixa que o Espírito Santo, vá fazendo do perdão vida em ti.

Porque é tão importante, Senhor, o perdão?

Meu filho, como queres tu amar-Me se o teu coração rejeita alguém?
Como queres tu amar-Me, se não vives no amor?
Como queres tu ser comunhão Comigo, se estás dividido em ti?
Como queres tu viver a paz que Eu te dou, se não tens paz em ti?
Como queres tu sentir a minha alegria, se o teu coração está triste, porque ainda não perdoaste?

É verdade, Senhor, reconheço tudo isso, mas sou tão fraco!

Meu filho, já nem te lembro do que Eu fiz quando morri por ti e por todos, e perdoei aos meus algozes, mas lembro-te de Estevão, que apedrejado, pedia por aqueles que o matavam.

Oh, Senhor, mas Estevão era Estevão e eu sou nada comparado com ele.

Isso não é verdade, meu filho. Tu és como Estevão, um homem exactamente como ele a quem Eu amo com amor idêntico.
Dentro de ti está a mesma centelha divina que estava em Estevão, como está em todos.
Só tens que te agarrar a ela, deixar que ela seja vida em ti e encontrarás então toda a força que necessitas para perdoar e amar os outros com o Meu amor.

Obrigado, Senhor! 
Como sempre estas conversas Contigo trazem-me sempre a paz e o amor que necessito para viver.


Senhor
atrevo-me a pedir-Te o que sabes ser necessário para eu viver o perdão, para viver em amor.
Que o Espírito Santo me recorde continuamente que se estou dividido, se não estou em paz, se não amo, se não perdoo, também não posso estar em comunhão Contigo, porque estou a excluir alguém dessa comunhão.
Creio, Senhor, firmemente que no Teu amor posso perdoar sempre e sempre ser amor para os outros.
Obrigado, Senhor.






Marinha Grande, 13 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 11 de março de 2024

CAMINHO DE QUARESMA X

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Não queres viver na escuridão, mas por vezes parece que também não queres a luz.

Viver na escuridão é viver sem horizonte, é viver sem esperança, é viver fechado em si mesmo, é viver sem caminho, é viver sem alegria, é viver sem viver.

Ah, mas na luz, tudo é diferente!

O horizonte está à nossa frente, vivemos a esperança de o alcançar, vivemos vendo os outros que se cruzam nas nossas vidas, vemos o caminho, vemos as cores da vida e alegramo-nos com elas.

Para vencer verdadeiramente a escuridão, as trevas, só uma luz o consegue fazer, e essa Luz é Jesus.

E Ele é sempre a Luz que nos quer guiar, que nos quer mostrar o caminho, que nos quer libertar de toda a escuridão que sempre nos rodeia.

Por vezes queremos seguir caminhos sem luz, e, então, a Luz de Jesus apaga-se em nós, (embora fique sempre a brilhar no fundo do nosso coração), e nós perdemo-nos no caminho, tropeçamos, caímos, talvez nos levantemos, mas voltamos sempre a cair, porque a escuridão nos rodeia, nos aprisiona e não nos deixa ver a vida que se esvai sem sentido.

Mas porque a Luz de Jesus fica sempre a brilhar, mesmo no fundo do nosso coração, basta-nos abrir o coração e deixar que a Luz de Jesus tome conta de nós, e ilumine o caminho que Ele mesmo é, e se nos oferece constantemente.

«Fui-vos revelando estas coisas enquanto tenho permanecido convosco; mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse.» Jo 14, 25-26

“Acendamos” o Espírito Santo em nós, ou melhor, deixemos que Ele se faça vida em nós, que nos faça sentir o amor do Pai, que nos revele verdadeiramente Jesus, porque como diz o salmista «é na Tua luz que vemos a luz» Sl 36, 10







Marinha Grande, 11 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 8 de março de 2024

CAMINHO DE QUARESMA IX

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Entras na igreja, ajoelhaste, rezas, pedes a Deus que te ajude na confissão que queres fazer de todos os teus pecados.

Já fizeste o teu exame de consciência, mas ainda tens aquele receio de te esqueceres de qualquer coisa que tenhas feito mais segundo a tua vontade do que segundo a vontade de Deus.

Lembras-te, no entanto, que a Igreja te ensina que aqueles pecados que não confessares por verdadeiramente não te lembrares deles no momento do Sacramento da Reconciliação, te são também perdoados, pois a tua recta intenção era confessá-los também.

Colocas a cabeça entre as mãos e deixas-te ficar ali, frente ao sacrário, aguardando o momento de te confessares, pensando que Deus extraordinário é este que se coloca assim de braços abertos para acolher e perdoar os Seus filhos.

No teu coração e na tua mente arrependes-te sinceramente de teres cometido tais faltas e ali, frente a Jesus sacramentado, tomas o compromisso sério e firme de não voltar a cometer tais faltas.

Aproximas-te do sacerdote que te espera no confessionário.

Vem ao teu coração que a Igreja também ensina que o sacerdote ali presente para o Sacramento da Reconciliação, está “in persona Christi”, ou seja, é Jesus Cristo que ali está, por meio do sacerdote, para te ouvir e abraçar no perdão.

Fazes o sinal da cruz e interiormente dás graças desde já a Deus por te ter trazido até ali e por estar ali naquele sacerdote para te ouvir e perdoar.

Desfias os teus pecados, começando por aqueles que te parecem mais “pesados”, para depois, baixando a cabeça envergonhado, contares aqueles que te atormentam todos os dias e ainda não conseguiste vencer totalmente, por isso os vais repetindo tantas vezes.

O sacerdote olha para ti, sorri, e começa por te dizer que essas faltas que repetes, são uma constante das nossas vidas, mas que, se tomamos consciência delas e as combatemos, só podemos esperar que, com a ajuda do Espírito santo, um dia venceremos essas nossas fraquezas.

Reconheces, num instante, no teu coração que já deixaste para trás muitas dessas fraquezas que te assaltavam todos os dias, embora ainda tenhas outras para combater diariamente.

Ouves atentamente o sacerdote e vais sentindo a leveza do perdão entrando em ti.

Rezas convictamente o acto de contrição e recebes humildemente a absolvição que te é dada pelo Senhor Jesus Cristo, que age por meio do sacerdote ali presente, e que Se entregou por ti, que Se fez homem como tu, que concedeu aos Apóstolos e seus sucessores essa graça imensa de em Seu Nome, perdoarem os pecados dos homens arrependidos.

Sais do confessionário com um sorriso no rosto, sentes-te aliviado, sentes-te renovado, sentes-te reconciliado com Deus e contigo próprio.

Ajoelhas-te mais uma vez frente ao sacrário para rezares a penitência que te foi dada.

Mas deixas-te ficar ali mais um pouco a gozar aquele momento de paz interior e até exterior que sentes agora.

No teu coração, na tua mente, na tua boca, sai apenas um agradecimento profundo ao Deus que te abraça e acolhe como um filho querido e amado, e vais repetindo:
Obrigado, meu Senhor e meu Deus, obrigado!






Marinha Grande, 8 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves